A diferença do alimento vivo
Mesmo os granívoros necessitam de alimento vivo. No estado selvagem todas as aves acabam por ingerir alimento vivo em especial quando alimentam as crias. Muitas espécies têm ciclos reprodutivos coordenados com as chuvas e os insectos e vida vegetal que estas trazem.
Para os insectívoros é indispensável fornecer aos pais insectos e larvas para alimentarem as crias e até mesmo para que se mantenham saudáveis pois são aves muito curiosas e activas e adoram perseguir "proteínas com pernas".
As principais formas de alimento vivo são o "asticot" (larvas de mosca), as trelas (larvas de um coleóptero), minhocas, vermes brancos e moscas da fruta (drosophilas). Não é necessário ter todas estas variedades, mas se possível isso seria o ideal. Acima de tudo vai depender das espécies com que trabalhamos. Os exóticos mais pequenos como o peito-de-fogo precisam de insectos também pequenos e o melhor são as moscas da fruta e os vermes brancos, aves maiores como o peito-celeste podem criar os filhos com trelas pequenas e asticot (embora adorem os afídios), os insectívoros puros preferem larvas grandes e minhocas, e até mesmo alguns pedaços de carne.
A principal função do alimento vivo é fornecer proteína. Não é que esta não exista nas papas com que suplementamos os granívoros em criação, trata-se mais de um problema comportamental e instintivo em algumas espécies.Os estrildídeos pequenos, alguns fringilídeos e obviamente os insectívoros, quando têm crias procuram instintivamente alimento vivo para elas, mesmo tendo as papas ali à frente e mesmo que as consumam! Os peitos de fogo por exemplo consomem facilmente papa de insectívoros, mas não a dão às crias porque nos primeiros dias tentam encontrar alimento que lhes entreguem no bico e não seja regurgitado (papas e sementes). O mesmo se passa com os insectívoros, quem alguma vez vir uma casal de insectívoros alimentar as crias repara que o modo como o fazem não é igual ao dos granívoros puros que enfiam a comida dentro do bico das crias, nos insectívoros a comida é geralmente largada no interior do bico sendo depois engolida pela cria.
Existem duas hipóteses de se fornecer alimento vivo, ou criamos nós mesmos esse alimento sob diversas formas, ou então podemos recorrer a boas lojas ou empresas que fornecem este tipo de alimentos e fazem a entrega por correio. (Livefood Company)
"Asticot"
São pequenas larvas brancas com cerca de 1-2cm de comprimento. Não é dos melhores alimentos vivos mas ganha vantagem por ser muito fácil de encontrar na maioria das lojas de pesca, pois é usado como isco. Além do mais são relativamente baratos, podendo comprar-se em grande quantidade. Não devemos comprar muito porque as larvas desenvolvem-se e transformam-se em moscas, o que podemos atrasar se as deixarmos no frigorifico.
O problema destas larvas é que são criadas em carcaças de animais mortos e podem transmitir algumas doenças. Já vi referências a botulismo, uma doença causada pelas bactérias Clostridium botillium que produzem um dos venenos mais poderosos que se conhece. Uso asticot há vários anos, até como pescador, e nunca tive nenhum problema com isso. Tenho cuidado de manter as larvas numa mistura seca de farelo e serradura no frigorífico e lavá-las muito bem na torneira antes de dar aos pássaros, o que é muito fácil de fazer com uma rede ou passador.
Já tentei ferver as larvas depois de lavadas, mas como é lógico isso causa a sua morte e as aves preferem receber o alimento vivo.
Bichos da farinha ("Trelas")
As trelas são a fase larvar de um escaravelho (Tenebria molinitor). São um bom alimento, mas com muita gordura, pelo que temos de ter atenção e não exagerar nas quantidades oferecidas. Não são fáceis de comprar e relativamente caras, pelo que a hipótese é formar uma cultura e reproduzir estas larvas.
Fig.- Bicho da farinha adulto.
Não é difícil de criar, mas requer cuidados e algum trabalho especialmente até se encontrar o equilíbrio certo entre a quantidade produzida e a consumida. Acontece muitas vezes que não temos larvas disponíveis quando precisamos.
Eu mantenho uma cultura em recipientes de plástico largos. Num deles estão os escaravelhos adultos que põem os ovos. Cada duas semanas tiro estes escaravelhos e coloco-os num recipiente novo com uma mistura de farelo, serradura, germen de trigo, flocos de aveia e uns pedaços de maçã para manter a humidade, voltando a colocá-lo no mesmo sítio.
A mistura onde estavam os escaravelhos está cheia de ovos e passo-a para o recipiente de baixo, onde as larvas se vão desenvolver. Passadas mais duas a três semana vou vendo como estão as larvas e separando estas para um mistura limpa. Este sistema permite ter larvas de diferentes tamanhos e ir gastando-as ao longo de duas semanas (dos 3 recipientes um tem ovos, outro larvas e outro escaravelhos). O inconveniente é que esta cultura, além de não ter grande produção de larvas, caso começem a morrer, exala um cheiro pouco agradável!!
Vermes brancos
São uns vermes cilíndricos muito pequenos que vivem na matéria vegetal em decomposição. São muito fáceis de manter a partir de uma cultura inicial que podemos obter procurando alguns destes vermes por baixo de uma árvore morta ou de um vaso.
Basta ter um balde ou vaso com terra de flores, uma camada fina de farelo e ir colocando semanalmente uma fatia de pão molhada em leite. Reproduzem-se muito rapidamente e é fácil retirar alguns com uma colher para dar às aves. Podemos até fazer culturas mais pequenas que se dão de uma só vez e depois reabastecemos da cultura principal.
Moscas da fruta
São fáceis de arranjar, mas temos de ser nós mesmos a criá-las, para tal basta colocar ao sol pedaços de fruta e cascas de banana dentro de um frasco. Quando vemos as pequenas moscas lá dentro tapamos o bocal do frasco com uma gaze e deixamos ficar por uma semana. As larvas desenvolvem-se e tornam-se moscas bastando abrir o frasco no viveiro. O problema é que quando abrimos o frasco muitas fogem e poucas são comidas. Em viveiros exteriores podemos fazer uma cultura maior numa caixa de plástico tapada com uma rede de dimensão que permita a saída das moscas adultas, assim existe sempre um stock contínuo no próprio viveiro. Se tivermos duas ou mais culturas podem-se alternar deixando recuperar a população de moscas e larvas.
É um bom sistema para ter em aviários exteriores com abrigo, frutas como pêra, banana e melão são óptimas para criar moscas. Em algumas situações podemos mesmo abrir as caixas e deixar que as aves procurem as larvas e moscas lá dentro desde que não existam fungos e bolores é claro.
Grilos, gafanhotos e aranhas.
São um bom alimento para os verdadeiros insectívoros, quem quiser e tiver o tempo necessário pode apanhar estes insectos pelos jardins e campos e guardá-los. É uma maneira boa para dar uma guloseima às aves, mas dificilmente se consegue ter a quantidade suficiente para manter um casal em criação.
Os gafanhotos podem apanhar-se no verão e guardar em caixas de madeira ou rede com alguma verdura e mistura de farelo, o mesmo que os grilos. Se tivermos algum espaço pode mesmo ser que se consiga reproduzir os grilos de um modo semelhante ao usado para as trelas. Grilos pequenos são na minha opinião um alimento óptimo para quase todos os insectívoros até ao tamanho dos melros.
Formigas de asa
Conhecidas entre os passarinheiros como isco para as ratoeiras na altura do outono, são estas formigas aladas que surgem para se dispersarem e formarem novas colónias. Todas as aves adoram este alimento e vê-se facilmente que as aves selvagens perseguem-nas em vôo e consomem muitas quando disponíveis.
São difíceis de criar, mas podemos apanhá-las na altura certa e deixá-las numa caixa de madeira ou plástico numa mistura de serradura e farelo com alguns pedaços de cenoura e um prato com um pouco de água no fundo. Consegue-se que durem vários meses nestas condições e, acima de tudo, que mantenham as asas que costumam cair. Todas as aves africanas adoram estas formigas em especial as maiores. Os tecelões chegam mesmo a coordenar o seu ciclo reprodutivo com o aparecimento das formigas e costumam construir inúmeros ninhos quando começam a alimentar-se delas.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
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